sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Reflexão sobre o 4º poder

O quarto poder é uma expressão criada para qualificar, de modo livre, o poder da média ou do jornalismo em alusão aos outros três poderes típicos do Estado democrático (Legislativo, Executivo e Judiciário).
Essa expressão refere-se ao poder da média quanto a sua capacidade de manipular a opinião pública, a ponto de ditar regras de comportamento e influir nas escolhas dos indivíduos e por fim da própria sociedade.
Já há muito tempo que nos habituámos a designar a comunicação social por quarto poder. E de facto, cada vez mais a Comunicação Social influencia as pessoas nas suas acções e opiniões. Sempre achei estranho que tantas pessoas encarem como verdades irrefutáveis tudo o que vêm nos noticiários televisivos. Hoje a Comunicação Social, e em especial a televisão porque atinge um auditório mais vasto, tem uma capacidade de criar heróis e vilões que tem que assustar quem receie um mau uso deste enorme poder.
Para onde quer que nos voltemos, ouvimos falar de comunicação e de informação.
A grande maioria dos nossos problemas surgem porque não temos a informação suficiente ou porque a comunicação foi deficiente, as pessoas não se entendem porque não comunicam devidamente, nunca temos à mão suficiente informação para tomar uma decisão tranquilamente.
Numa era dita de informação, esta prolifera como erva daninha à nossa volta. Temos jornais e revistas, rádio e televisão, noticiários contínuos, nacionais e internacionais, intranet e Internet, livros e cd's ou DVD's, com muita e variada informação que nos sufoca e confunde.
Então começamos a seleccionar o que lemos, o que ouvimos e vimos. Do jornal diário ou semanário, da televisão. Não temos tempo para aprofundar esta ou aquela notícia, este ou aquele assunto em debate, esta ou outra teoria sobre qualquer tema que possa ser de interesse para nós.
Passamos a emitir opiniões sobre coisas e assuntos apenas dispondo de um pequeníssima quantidade de informação, cometendo erros de apreciação e de opinião. Pensamos estar informados e elucidados e não reconhecemos o nosso desconhecimento.
Esta condição torna-nos vulneráveis a ataques daqueles que poderão, pelas mais variadas razões, querer manipular-nos. Esta é uma realidade que nos rodeia e que é bem visível para todos os que, por conhecimento de causa ou por interesse académico, analisam tudo o que os circunda.
Os média são um desses exemplos claros e inequívocos. Dizem-nos e mostram-nos o que lhes interessa e da forma que mais lhes convêm.
Esta manipulação é constante, mesmo naqueles órgãos de informação que se intitulam imparciais e isentos de influências. O factor humano está no jornalista que escreve a notícia, e ele não o consegue fazer sem emoções, pelo que exprime sempre a sua opinião, mesmo que de forma encapuçada.
Estas influências, quase nunca percebidas por aqueles que são influenciados inadvertidamente, não trariam grande mal ao mundo se não pendessem todas para um mesmo lado, isto é, se não fossem tendenciosas em vez de serem diversificadas e abrangessem todo o espectro possível de opinião. Contudo, quando um determinado órgão de informação pende tendenciosamente para um lado, então estamos todos, enquanto sociedade, a correr um grande risco. O risco da desinformação e da influência tendenciosa, que nos pode levar a assimilar certas informações erradas ou menos verdadeiras como verdades absolutas.
Observe-se a televisão com um pouco mais de cuidado, e pode-se constatar que, pela forma como os jornalistas fazem as suas perguntas, as respostas são forçosamente aquelas que eles querem. Manipulam os entrevistados e levam-nos a dizer o que mais lhes convêm. Deturpam a realidade, mostrando apenas um dos lados da mesma, por ventura a que menos nos interessa enquanto sociedade que necessita de estar bem informada.
Um director de um canal de televisão uma vez disse que, se quisesse, podia fazer qualquer pessoa vir a ser Presidente da Republica. Levou a sua afirmação ao extremo, mas esta deve ser entendida como algo que efectivamente pode acontecer. O contrário, ou seja, mandar um governo abaixo é também possível, e todos nós sabemos que há partidos que são mais acarinhados pela comunicação social do que outros. Parece que temos de acreditar forçosamente naquilo que nos querem impingir.
O quarto poder está bem vivo, e de uma forma ainda não organizada, vai fazendo a sua campanha política, sem controlo de comissões de eleições e sem tempo limitado. Nem mesmo o chavão de que “somos informação isenta” nos pode enganar, porque mesmo este tem como objectivo fazer-nos crer que podemos acreditar piamente neles.
Um controlo inteligente das nossas emoções quando aceitamos informação pode fazer com que sejamos menos manipulados. As emoções descontroladas só nos ajudam a perder o controlo.
Quando A deseja provocar determinado comportamento em B sem manifestá-lo explicitamente, e B obedece sem dar conta que está a fazer exactamente o que A deseja, estabelece-se o que se chama de manipulação. Como elemento do poder, a manipulação é uma das mais insidiosas formas de domínio, pois prescinde de qualquer legitimação ou argumentação e não tem face, sendo instrumento de controlo capaz de obter a obediência incondicional, inclusive, de grande parte da sociedade.
Convém aqui relembrar que os meios de comunicação, notadamente a televisão, constituem-se em poderosos instrumentos de manipulação e de persuasão, sendo os maiores formadores não só de opinião como de comportamentos, hábitos e atitudes. A partir daí, infere-se que a média colabora como nenhum outro tipo de controlo social para o processo de massificação da sociedade. O resultado é que temos cada vez mais uma sociedade de massas e menos uma sociedade de públicos selectos e capazes de opinião própria.
Este fenómeno pode explicar a força do 4º Poder, ou seja da média, cuja força política repousa no facto de que é capaz de dar “vida” ou “morte” aos políticos. Mesmo porque, é esse Poder que faculta ao político o espaço público sem o qual ele não existiria perante os eleitores ou, uma vez eleito, diante dos governadores.
Forma-se desse modo uma situação em que, sendo refém do 4º Poder, o homem tem ao mesmo tempo como meta dominá-lo, para fazer dele o instrumento privilegiado de suas ambições. Os que conseguem concessões de rádios e televisões ou propriedade de jornais, têm em mãos imensas vantagens. Os que não chegam a obter tanto, especialmente em campanha, valem-se da imagem cuidadosamente trabalhada pelo marketing, da oratória que procura convencer através da crítica veemente ou de promessas impossíveis de serem cumpridas mas agradáveis de se ouvir. Quanto aos que governaram ou governam, sempre tiveram com relação ao 4ºPoder a coabitação capaz de lhes possibilitar a extensão possível do seu domínio.
No festival de persuasão e manipulação em que vai se convertendo cada vez mais a campanha, o 4º Poder usa e é usado, e poucos eleitores saberão distinguir a mentira da verdade. Verdade é uma mercadoria que as massas não podem ser induzidas a comprar. Assim é, porque as ideias que entopem a cabeça do cidadão normal são formuladas por um mero processo de emoção.
E é assim que eu vejo o 4ºPoder.

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